segunda-feira, março 16, 2009

Estilos saudáveis de vida

Publicado no Jornal O Povo em 04-03-09

Quando as pessoas me dizem o quanto é difícil e “chato” adquirir e manter estilos saudáveis de vida, sempre estou a lembrar de meu tio Joaquim, que gostava tanto do lazer que muitos lhe davam o apelido de “Feriado”. Preguiçoso, estará o leitor a pensar? Pelo contrário, era muito trabalhador e tinha grande alegria de realizar seu trabalho, na loja de seu pai. Todos os dias, se levantava bem cedinho para caminhar na praia Formosa, com os pés dentro da água do mar. Diziam os irmãos dele que ia era “flertar” com as garotas que encontrava pelo caminho. Alegre como ninguém, todo sábado à noite ia para a farra nas pensões alegres da Major Facundo onde era conhecido como grande dançarino e por não gostar de álcool. Vez por outra bebia um pouco e pagava cerveja para todos para agradar a “madame”, dona das “raparigas”. Odiava a fumaça dos cigarros e charutos porque dizia que fedia e manchariam os seus dedos, sempre com unhas muito bem feitas e pintadas pela manicura no seu salão predileto na rua Floriano Peixoto. Era o tipo, cantado em prosa e verso, do almofadinha. Boa pinta e boa fala, cantava todas que chegavam perto. Mas tinha uma estranha maneira de selecionar as suas “caças”: somente queria as magras, mais de 20 anos de idade, alegres e que fossem carinhosas e não as “boas de cama” como todos exigiam na época. Era magro, comia pouco e quase sempre estava pedindo peixe com batatas. Dizia que a gordura da carne de boi lhe fazia arrotar e que não fazia bem a sua digestão. Vez por outra, no entanto, quando tinha vontade, comia carne assada com os amigos. Nas férias, ia para a Serra da Meruoca onde tinha uns lugares secretos para passear. Ah! Ia esquecendo que, depois de mulher, o que mais gostava era de ler os romances da época. Vez por outra foi flagrado escrevendo poesias que ninguém jamais conseguiu ler, pois as escondia com muito cuidado. Era religioso e tinha muita fé em São Paulo que ele achava um “senhor santo” e que muito a ele devia de sua vida. Quando já tinha uns 40 anos foi embora para a Bahia, casou , teve vários filhos e netos e lá viveu sempre muito alegre e feliz, até que faleceu com 105 anos, lúcido e ativo. Sentiram, meus leitores, os estilos de vida do Joaquim? Por suas razões e escolhas já naquele tempo tinha estilos de vida exemplares com muita satisfação de viver. Por sua própria decisão praticava exatamente o que receitamos hoje como verdadeiros “remédios” para a cura e prevenção: momentos de lazer, alegria, alimentação saudável, atividade física, sem fumo e sem álcool, trabalho com prazer, ler romances e poesias, gostar de mulheres carinhosas, praticar sexo com amor, ter fé em Deus e muita auto-estima. Como estou fazendo um estudo das minhas memórias, tive a grata satisfação de ler estes dados sobre o Joaquim, deixados por sua irmã em um caderno velho. Querem uma surpresa mais? Adorava cenoura (betacaroteno), laranjas (vitamina C) e leite (cálcio). E também bebia muita água, pois dizia que era bom fazer muito pipi. Viram como é possível ter estilos saudáveis de vida de uma maneira alegre e feliz? Nada de radicalismos e sim, equilíbrio com satisfação.
ANTERO COELHO NETO Médico e professor