sábado, setembro 05, 2009

SAÚDE DO HOMEM

Publicado no Jornal O Povo em 02-09-09

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É com grande satisfação que constatamos a oficialização do Projeto Nacional de Integração em Promoção e Atenção da Saúde do Homem. Durante muitos anos escrevemos e lutamos pela “igualdade” de uma política de saúde voltada para o homem, de uma maneira global e integrada, articulando os elementos e princípios fundamentais da saúde do corpo, mente e também espírito do homem. Espírito entendido como o conjunto de princípios e sentimentos dependentes das dimensões humanas que caracterizam a vida de cada pessoa: solidariedade, amizade, liberdade, compromissos, participação no meio em que vive, etc. Por que um grande desenvolvimento da saúde da mulher, da criança, do idoso (recente resultado de uma luta de muitos anos) e não também do homem? Por que a discriminação? Que interesses são contrários? Ao se analisar o cenário nacional, comprovamos que muitos homens não têm chance de procurar um médico por falta de tempo, serviço médico adequado e próximo e por não terem condições financeiras e nem estímulo para procurar um médico. E o que se constata é a grande diferença dos números entre os homens e a mulheres: Em 2007 foram ao SUS 2,5 milhões de homens e as mulheres quase 7 vezes mais: 17 milhões. O Instituto Nacional do Câncer, também em 2007, revela 45.400 mulheres com câncer e 49.530 homens apresentam Ca de próstata. O Ministério da Saúde também destaca que os princípios da masculinidade (do machismo brasileiro) limitam a procura preventiva e de promoção da saúde dos serviços médicos específicos. Muitos homens se negam a fazer exames de próstata, pênis, sexualidade, etc. o que tem causado grandes valores estatísticos prejudiciais. E o que mais agrava a situação é o conhecimento de que o homem tem uma alimentação muito mais deficiente, pratica menos exercícios físicos, tem mais estresses, menos religiosidade e sociabilidade, amam e choram menos do que as mulheres. E o mais significativo: bebem e fumam muito mais do que as mulheres. O consumo de álcool em Fortaleza, por exemplo, é de 35,9% de homens e 10,6% de mulheres. Nos dias 14 e 15 de agosto de 2009, a Sociedade Brasileira de Urologia, realizou em São Paulo, o Simpósio Internacional de Saúde do Homem, com uma programação muito variada e integral, articulando a vida saudável com qualidade, sexualidade e convivência com as doenças urológicas. Para confirmar a integração, a palestra de abertura foi proferida pelo ex-presidente, Fernando Henrique Cardoso, que fez uma análise do cenário médico brasileiro. E agora temos a maior alegria, ao constatarmos que o presidente Lula está do nosso lado, quando no Programa “Café com o Presidente”, no dia 10 de agosto passado, afirmou: “Além de procurar menos o serviço de saúde, os homens bebem mais, fumam mais e fazem menos exercícios do que as mulheres. Por isso, a importância de manter os hábitos muito saudáveis e fazer exame de prevenção rotineiramente, para evitar as doenças ou detectá-las em tempo, facilitando o tratamento e a cura.“ Até o presidente Lula! Viva o Brasil!
Antero Coelho Neto -
Médico e professor acoelho@secrel.com.br

Homem não chora!

Publicado no Jornal O Povo em 05-08-09

Cresci e me criei ouvindo esta frase de meus pais, familiares e de quase todos os amigos. Homem é homem! Não chora!
São milhares de referências em livros, artigos, pesquisas, músicas, etc. Na linda canção do guitarrista Roberto Frejaj ele canta: “Homem não chora, nem por dor, nem por amor. Homem não chora, nem por ter, nem por perder”
Pobres de nós, que tivemos de pagar um preço altíssimo por isso. Muitos machos morreram, sofreram, padeceram ou perderam ricos e lindos momentos da vida. Foram enganados, mortos e sacrificados em nome dessa “diferença fundamental” com a “pobrezinha” da mulher que realmente dirige e comanda a casa e os filhos fazendo de conta que está seguindo as “ordens” do marido, o grande chefão.
É interessante destacar que as mulheres Celtas, por razões locais específicas, nunca permitiram essa desigualdade e sempre foram as reais comandantes da vida familiar. E lá os homens estão felizes da vida, chorando e vivendo mais.
Claro que temos melhorado muito nesses últimos anos em relação às desigualdades entre os homens e mulheres, mas necessitamos, principalmente em certas regiões do país, melhorar muito mais. Ou “piorar muito mais” como diriam alguns machos?
Mas as brasileiras continuam vivendo mais do que os homens em valores muito acima de inúmeros países do globo. São 8 anos mais. E isto pela prática das mulheres de muitos elementos reconhecidamente de valor na nossa longevidade: maior sociabilidade participando de grupos de convivência e de amigas, dançando e cantando; religiosas e praticando muito mais a espiritualidade; amando com freqüência e habilidade; realizando mais atividade física; trabalhando muito (realizando atividades que lhes dão prazer); bebendo e fumando menos do que os homens. E chorando, sem fragilidade ou vergonha de mostrar para todos sua tristeza ou também alegria.
Comigo aconteceu uma transformação que jamais imaginava: passei a desenvolver vários dessas qualidades ditas femininas e hoje choro com facilidade, me sentindo muito melhor. Aprendi, trabalhando como médico na promoção da saúde e da qualidade de vida relacionada com a saúde e maior longevidade. E foi com as mulheres idosas, principalmente, que aprendi muitas coisas boas da vida humana.. Elas abriram para mim um horizonte diferente e melhor. Por isso, quando dou entrevistas na mídia, palestras nas organizações públicas e privadas ou em cursos de Faculdades, brincando eu afirmo, “Estou cada vez mais feminino”. Eles riem e para que não pensem “outras coisas” eu explico também sorrindo. E todos ficamos alegres.
Por isto, neste momento, o meu conselho: homens, vamos mudar de comportamento e vamos viver muito mais e melhor. E chorar vai nos ajudar muito. Os “machos” que nos condenem, mas “chorar é fundamental”. E que isto possa acontecer antes que a afirmação do famoso geneticista Steve Jones seja uma realidade: “o cromossoma Y vai desaparecer do mapa genético e os homens vão desaparecer”.

Antero Coelho Neto
Médico e professor