terça-feira, novembro 08, 2011

O VALOR DAS NOSSAS MEMÓRIAS


05.10.2011
01:30

Jornal O Povo - Online

Um leitor escreveu: “Por que o senhor valoriza tanto a memória? Será que com isto a pessoa passa a não dar o devido valor ao presente? Perdendo tempo guardando os fatos passados?” Boa pergunta, amigo. Eu mesmo fiz esta reflexão quando, em 1990, iniciava a minha aceitação para o que chamei de “trinca da minha vida”: liberdade, amor e memória.

Lembrei então da frase de Gabriel Garcia Márquez: “La vida no es la que uno vivió, sino la que uno recuerda y cómo la recuerda para contarla”.

Sim, mas também é preciso ter cuidado para não “endeusar” o passado. Convencido disso comecei, desde então, a estudar as técnicas de futurologia e passei a pertencer a várias organizações futuristas. Muito aprendi e até escrevi vários artigos e o livro “O Futurista e o Adivinho”, que me deu muita satisfação. Nele destaco a importância de planejar o futuro para alcançar o presente desejado. Nós,



brasileiros, principalmente os nordestinos, não gostamos de planejar o futuro. Sem passado e sem futuro, vamos viver, simplesmente, o presente? E seja o que Deus quiser?

Costumo destacar que temos dois tipos fundamentais de memórias cognitivas: a do presente e a do passado. A primeira é a memória do momento, para a solução das coisas imediatas e que decide sobre “o que” e “como” fazer . A segunda, a que “guarda” os valores antigos, acontecidos, e que valeram e que valem a pena para a pessoa, a família, amigos e, depois, para as bibliotecas e historiadores. De enorme importância com o passar dos anos, nos permite permanecer lúcido e atualizado com as “coisas” do presente, com a nossa vida diária. Os dois tipos constituem toda uma grande luta da gerontologia e geriatria atuais, na tentativa de mantê-las sempre vivas, permitindo a nossa “normalidade”, com o passar dos anos.

Devemos destacar que a mente também mobiliza outros tipos de memórias (associativa, interpretativa, dedutiva, seletiva, etc.), no desenvolver das ações diárias de nossa vida. E mais, a mobilização e bom uso dessas memórias ajudam a permanência de uma vida ativa, saudável e com melhor qualidade.

Portanto, quando valorizo a memória me refiro ao seu conjunto. E, garanto para vocês, esta atitude tem me presenteado com uma evidente melhoria da minha qualidade de vida. Espero que também me ajude na longevidade que vou poder alcançar. E, como destaque especial na perpetuação de nossas memórias sociais, profissionais, educacionais, científicas, técnicas, etc., lembro a importância das bibliotecas, dos colecionadores, dos memorialistas e de outros meios modernos de comunicação.

Vamos então memorizar a nossa vida? Vamos escrever artigos, livros, poesias, canções, manifestos, biografias?

Vamos fotografar, esculpir, pintar, gravar, digitar? Sem isso meu amigo, eu sempre digo: a vida simplesmente passou e não existiu.

E você, amigo velho, vai querer que seu bisneto não saiba nem quem foi o seu bisavô? Nem mesmo o seu nome? Será que você esteve mesmo na Terra?

Antero Coelho Neto, acoelho@secrel.com.br

Médico, professor e presidente da Academia Cearense de Medicina



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